quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Nosso Horizonte

A Revolução e a Esquerda que Temos

Nós vivemos sob a hegemonia dos oportunistas. A esquerda revolucionária foi reduzida e desqualificada ao longo do tempo. Fragmentada em suas vanguardas e esfacelada em suas bases, perdeu e a cada dia perde mais fôlego nas lutas populares, que diferentemente da esquerda, somente crescem em demandas reais.

Hoje, no mundo pós-estalinismo, nos encontramos a recolher os restos de uma outra virtualidade. Uma realidade sem alternativas, prenunciada e tacitamente vitoriosa pelos reformadores mais proeminentes da penúltima grande crise do Capital.

Nesta nova e completamente incerta fase da luta dos trabalhadores, temos poucas, mas tenebrosas certezas sobre seus rumos e conseqüências, a curto e médio prazo. Bem como podemos traçar algumas possíveis causas para estar onde estamos.

Com o desmantelamento da União Soviética, se inaugura então um estado de aprofundamento total na descentralização do movimento revolucionário comunista. O que traz conseqüências drásticas, não somente para o movimento revolucionário em si e sua busca pelo fortalecimento unitário, mas tragicamente para suas bases ideológicas, leia-se: pensamento marxista.

Em termos quantitativos, o debate interno à esquerda e a produção marxista nos meios partidários e acadêmicos se encontram em constante e progressivo arrefecimento. Em termos qualitativos a realidade se mostra em níveis ainda mais tétricos. A produção marxista é pouco significante e produz efeitos ínfimos, quase nulos à dinâmica dos movimentos sociais. Mas o que ocorre de mais grave, a meu ver, é em relação aos debates em meios partidários, para a esquerda e para os movimentos sociais: não há um debate sério! O que temos não vai além de digressões e justificações a posicionamentos e embates táticos entre as centenas de siglas que se traduzem em centenas de correntes internas, correntes externas, organizações internacionais (de amigos de facebook), partidos, partidões e partidinhos que se reivindicam marxistas, se auto proclamam revolucionários, mas que não apontam, não se fundamentam, não realizam, nem têm como horizonte palpável uma estratégia de fato marxista e de fato revolucionária.

Parece-me que, tanto quanto os valores do homem contemporâneo, o sentido de ser um militante marxista perdeu-se em meio ao caos ideológico, mas bem organizado pelos ideólogos do capital. Como se não passássemos de um bando de baratas afugentadas, atordoadas e desesperadas pelo bom e velho DDT, que neste renovado e asséptico mundo parece fazer mais efeito. Nesse mundo da vitória da mediocridade, da glorificação da estupidez, da ditadura do pensamento único e aprisionado, nos curvamos às meras disputas por migalhas partidárias, às contagens miseráveis de garrafas, nas rixas apequenadas por espaços ridículos de poder. Estamos também medíocres.

Nunca foi problema a ditadura do pensamento único. Nunca nos ameaçou a glorificação da estupidez. A ideologia dominante sempre foi a ideologia da classe dominante! Mas o que ocorre hoje? Por que então sucumbimos enquanto vanguarda do movimento revolucionário?

Sem temer as simplificações: porque vivemos sob a hegemonia dos oportunistas! Porque o processo que nos torna medíocres é o mesmo que mantém a mediocridade. Quem tem olhos pra ver reconhece o alto grau de desleixo e negligência dessas centenas de organizações reivindicantes da tradição marxista, sejam morenistas, sejam trotskistas, sejam estalinistas, leninistas ou o que forem, em práticas primárias de recrutamento, formação política e relacionamento com os movimentos sociais e com as massas. Dessa forma há um nivelamento por baixo nas discussões, esvaziamento teórico do marxismo como fundamento filosófico e instrumental nas análises necessárias para a vanguarda e uma direção partidária interessada em ganhos imediatos e mesquinhos para seus interesses egoísticos, de força ou individuais. Mas principalmente, há assim uma militância construída e forjada nos pequenos manuais e panfletos, que se torna desprovida de preparo teórico e intelectual e, por conseguinte, é incapaz de intervir e pensar dialeticamente, se tornando quase acrítica aos seus dirigentes imediatos.

Como cegos guiando cegos, nos encontramos numa das maiores crises na qual o capital já imergiu. Para um espectador desavisado é como se a luta de classes já houvesse deixado de existir. Pois, apesar da emergência de movimentos populares de grande vulto no mundo, mas principalmente na América Latina com a Venezuela e Bolívia nos últimos anos, a idéia de revolução e ruptura com o capitalismo e mais especificamente de uma revolução marxista, desde suas primeiras linhas traçadas nunca se encontrou tão esquecida, ignorada, e por muitas das vezes no seio dos próprios reivindicantes.

Especificamente no Brasil, temos um cenário de cuja única piora seria o total aniquilamento e desaparecimento de qualquer vestígio de organização popular ou pensamento crítico na sociedade. Pois o pouco que restou da esquerda “de luta” se encontra descolada e enfraquecida diante dos movimentos sociais reais e apartada dos grandes sindicatos e da massa de trabalhadores, que são então, juntamente com a burguesia, a grande base de sustentação do governo traidor do Partido dos Trabalhadores. E é durante este mesmo governo que o país alcança o status de potência imperialista, derrubando e silenciando algumas das velhas e mofadas análises de conjuntura marxistas onde as bandeiras de “fora FMI!” e “Não à ALCA!” não mais e talvez nunca tivessem feito sentido. Conjuntura esta que, aliada a inabilidade, apatia, descompromisso, falta de preparo e oportunismo dos marxistas “verdadeiros”, nos preenche de desesperança a médio e de total desespero em curto prazo.

Porém, como humilde, mas dedicado marxista, sei que o motor da História pode até parecer por vezes claudicante e podemos até vislumbrar a chama revolucionária cada dia mais fria e cada vez mais longínqua, entretanto, enquanto houver a exploração e opressão de um homem sobre outro, enquanto o mundo for dividido em classes essencialmente divergentes em interesses, enquanto a democracia não for imperativa em todos os espaços de vida e produção, enquanto o início e o fim das ações humanas não for a própria humanidade, sei que ainda não se apagará.

Sei que somos poucos, somos pequenos, mas sei que conseguimos provar na prática que direcionar nossa ação dialeticamente e sempre ao lado da classe trabalhadora ainda é a melhor forma de se alcançar conquistas e fortalecer o movimento. Conseguimos provar também que é possível se obter bons resultados eleitorais sem se ter a disputa parlamentar com foco estratégico, mas utilizando este momento como espaço pedagógico e de diálogo com as massas, reconhecendo as demandas reais da luta de classes como centrais e tendo sempre em vista o horizonte revolucionário como única forma possível de libertação, manutenção e evolução da vida humana neste mundo. De tal forma, se torna impossível o esgotamento da crença numa realidade melhor. Como marxista, reconheço na História que momentos de ascensão, ao contrário do que nos parece hoje, também existem e que a revolução é sempre impossível até que se torne inevitável.

Bruno Dutra Leite.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Por quê?

Somos Comunistas

Somos comunistas pois não há nada melhor a ser. Pois se houvesse, de certo seríamos.
Não somos comunistas por fetiche, pela bandeira vermelha, pela foiçe e martelo, ou pela Internacional. Somos comunistas porque sabemos que é o melhor caminho para a manutenção e evolução da vida humana.

Não somos comunistas pelo ódio ou por qualquer outro sentimento, que nos são naturais. Mas pela razão de sermos. Pela consciência.

Somos comunistas e reivindicamos a tradição secular do marxismo, pois não só cremos, mas racionalmente aprendemos com o estudo científico e pelo acúmulo de toda produção do conhecimento humano, que a filosofia dialética materialista histórica é, ainda, a melhor ferramenta racional para a compreensão da realidade concreta. Reivindicamos a História como única base sobre a qual o Homem se desenvolve, e reinvindicamos a sociedade como o único meio possível de sua existência, ser coletivo que é em essência. Acreditamos que essa mesma essência humana não pode ser facilmente definida, meramente com chavões e idéias retiradas do senso comum. Cremos que a essência humana, sobretudo, se costrói e se tranforma na prática, na realidade concreta das ações e intervenções no mundo.

Reinvindicamos o Homem como gênero universal em suas igualdades e diferenças. Acreditamos que toda ação humana se dá coletivamente. E adversamente à idéia dominante, cremos que as categorias indivíduo e coletivo são inseparáveis e se encontram em relação imbricada e necessária, pois, de igual forma que não há coletividade sem indivíduos, se torna também impossível um ser humano apartado dos outros.

Para além do conhecimento, ser comunista é sobretudo crer na tranformação. Crer que a realidade existe pra além daquilo que está diante dos olhos acostumados. Crer que há um conhecimento acortinado pelas ideologias dominantes e que este mesmo conhecimento, uma vez tomado, é chave para as ações tranformadoras.

Ser comunista é tentar ao máximo ser consciente. É viver pela maximização do uso da razão em suas ações. Ter em mente que todas as suas ações produzem consequências no mundo, reprodutoras ou produtoras de velhas ou novas práticas.
Temos o Homem como o verdadeiro centro da vida, objeto e objetivo, início e fim de toda ação e tranformação prática. Ao invés das idealizações alienates de deus ou do mercado.

Somos comunistas porque acreditamos no Homem e na sua capacidade de organização. Acreditamos na democracia como única forma legítima de organização coletiva. E sabemos que um mundo dividido em duas classes, com espaços demarcados e cercados pela figura jurídica da propriedade privada torna a democracia inviável em sua natureza pela exploração e expropriação de uma classe sobre a outra. Por isso somos contra e divisão da sociedade em classes, pois cremos que a a classe dos expropriados, dos explorados, a classe dos produtores, daqueles que com seu esforço e trabalho constróem a matéria do mundo, seja a única classe com legitimidade para existir, e para determinar seu próprio rumo histórico.