domingo, 29 de março de 2009
Conjuntura 2009
Por que hoje somos tão fracos?
Creio que vivemos um momento bastante peculiar da história. Mas que momento não o é?
Vivemos há poucos meses uma euforia de sentimentos capitalistas sem precedentes. Um momento em que o sistema aparentemente se mostrava sólido e nunca fizera tão bem ao mundo e até mesmo à humanidade. Mesmo onde a impossibilidade de um estado de pleno emprego, bem-estar a todos e do asseguramento de serviços públicos de qualidade não incomodava mais e nem mais entraria na pauta dos defensores e ideólogos do sistema, pois sua popularidade se mantinha intocada. Embora estivéssemos em um curto período a viver uma sensação apocalíptica em relação ao futuro do ecossistema e das demais conseqüências da produção material irracional, nos encontrávamos otimistas, pois o pior dos problemas se resolveria no campo das campanhas globais de caráter conservacionista e por leis e fiscalizações ambientais mais rígidas, assim desvinculando tais conseqüências da natureza irracional do modo de produção.
E então a Esquerda, cada dia mais enfraquecida e com o discurso menos difuso e mais disperso e abafado, neste cenário de vinte anos pós queda do muro e de “ondas” globais de prosperidade capitalista, em sua parte mais significante, se refugiou na repetição do discurso puramente ambientalista e sem a habilidade de integrá-lo à realidade da luta de classes. Pois ainda, a parte mais “realista” da Esquerda passou seu foco à disputa do apoio ideológico irrestrito ou da oposição feroz às novas experiências anti-imperialistas sul-americanas das empobrecidas Venezuela e Bolívia, enquanto outra parte da Esquerda passou a tomar como estratégico o debate e as denúncias sobre questões de violação de direitos humanos em países periféricos. Mais ainda aqueles que, mesmo oriundos da tradição marxista passaram a uma posição mais cômoda em longas alianças com setores burgueses, ora por conta de uma eleição ganha, ora por se cansarem do quase gueto onde a grande parte dos setores da Esquerda fazem morada. Esses hoje fazem parte de uma classe de organização que carrega todo simbolismo e reivindica a tradição de parte dos socialistas e comunistas de antigamente, mas integram a vala comum dos partidos do aparelho burguês a negociar benefícios individuais em relações promíscuas com o capital.
O que todas essas organizações, setores, partidos e demais componentes da Esquerda mundial têm em comum? O fato de terem progressivamente se afastado da questão principal e geradora de sua própria energia: a luta de classes. Ao se deslocarem e se distanciarem de sua própria natureza e “força motriz” da História, a Esquerda se tornou fraca, frágil e fragmentada por suas criações imaginárias e representações falsas de mundo e de classe. O que acarretou em fragmentação vinda da confusão de idéias em pontos de atrito criados pela Esquerda que se achou num mundo de falaciosos “pós tudo” e cobertas de medos de um possível “fim da História”.
Não saber ler a História. Foi esse o pecado mais grave. Foi ter esquecido os conselhos mais primevos de Marx e Engels no Manifesto. Foi ter realmente acreditado, após a queda do muro, que a reconstrução do socialismo como realidade era um sonho distante e quase impossível e que deveríamos esperar o momento revolucionário para assim então falarmos de revolução novamente, pois por enquanto, reafirmar o discurso do respeito à Constituição e aos “direitos humanos” e de apoio a políticas ambientais já era mais do que suficiente num mundo onde as maravilhas do telefone celular para todos agradava às classes trabalhadoras em estado de ascensão consumista.
Mal sabíamos e fomos pegos de surpresa pelo fato de que História não acabou. E de que Marx e Engels ainda estavam certos. E de que na verdade, esse momento de maravilha e prosperidade ocultava em suas entranhas a face verdadeira do sistema, a crise. E de que, através de artimanhas perspicazes se manteve por um bom período o capitalismo em expansão consumista, por meio de super crédito e super propaganda. Super consumo que por um período escondeu o estado patológico de superprodução.
O que hoje, neste mês de março do ano do calendário gregoriano de 2009, temos a vislumbrar é uma conjuntura em que a tradição da Esquerda é usada como tema para propaganda de automóveis e vira filme de Hollywood sem a menor fagulha de temor por parte do capital. Pois apesar de este estar num momento de profunda vulnerabilidade, a distância em que se encontra ideologicamente a frente da Esquerda é, sem mau uso do termo, humilhante.
Por que chegamos então a este estado de coisas?
Quando combinamos uma leitura equivocada da História, falsas táticas, fragmentação, que gera enfraquecimento, dispersão, sectarismo e mais enfraquecimento, aliados principalmente a uma visão não comprometida com o movimento propriamente revolucionário, temos uma classe despreparada e desarmada (em ambos os sentidos) para enfrentar uma crise clássica do capitalismo. Temos dirigentes autocentrados em suas imagens eleitorais e partidos desvinculados de sua base necessária. Temos sindicatos sem força ou controlados por pelegos aparelhadores e subservientes aos patrões. Mas sobretudo temos uma classe de trabalhadores ideologicamente manipulável e inconsciente de si, que portanto é incapaz de se proteger das drásticas conseqüências de uma crise sistêmica onde os de baixo são esmagadoramente mais fracos que os de cima.
Acreditar no que não se vê com os olhos cobertos e impregnados de ideologia, mas que é material, pois se pode mostrar pela razão. É a receita mais antiga de um método de pensamento revolucionário desenvolvido pela filosofia marxista e que, a meu ver, ainda é a máquina mais moderna de se enxergar a realidade. Essa é a única forma que conheço de se conquistar e tomar as rédeas da História e de nossos destinos. E mais do que nunca, é ela que pode nos conduzir de novo ao caminho da verdadeira e revolucionária liberdade.
Bruno Dutra Leite.
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sábado, 14 de março de 2009
Nossa Hora
A Resposta Marxista À Grande Crise de 2008
E a crise?
Perguntou o homem ocupado.
E todos falaram em línguas compreensíveis.
Mas sem resposta,
o homem seguiu ocupado.
E ocupado não fez nada.
E seguiu se ocupando do nada.
Hoje ele pergunta.
Ontem estava ocupado.
E amanhã estará livre.
Livre dos meios de produção.
Meios que os fazem homens ocupados
com sua liberdade.
Tão ocupados com sua liberdade
que não fazem
mais nada.
E seguem ocupados e livres.
E a crise?
Perguntou o homem ocupado.
E todos falaram em línguas compreensíveis.
Mas sem resposta,
o homem seguiu ocupado.
E ocupado não fez nada.
E seguiu se ocupando do nada.
Hoje ele pergunta.
Ontem estava ocupado.
E amanhã estará livre.
Livre dos meios de produção.
Meios que os fazem homens ocupados
com sua liberdade.
Tão ocupados com sua liberdade
que não fazem
mais nada.
E seguem ocupados e livres.
Antirromantismo
Falso Soneto da Realidade
E o amor que fogo foi e tanto ardeu,
já se foi fogo em brasas atrasadas
que outrora verdejante em vermelho
e hoje de cinza em baixas escalas.
A menina que tanto sonhara
e perdera a vida em longas noites
de românticos e nobres transes,
infeliz ao eterno fim que se fora.
Hoje se embebeda de real penar
que se pensa liberta da História
e chora sem orvalho em seu olhar
Quem sabe distante da glória
do passado que teima em distar
da vida das meninas de agora.
E o amor que fogo foi e tanto ardeu,
já se foi fogo em brasas atrasadas
que outrora verdejante em vermelho
e hoje de cinza em baixas escalas.
A menina que tanto sonhara
e perdera a vida em longas noites
de românticos e nobres transes,
infeliz ao eterno fim que se fora.
Hoje se embebeda de real penar
que se pensa liberta da História
e chora sem orvalho em seu olhar
Quem sabe distante da glória
do passado que teima em distar
da vida das meninas de agora.
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