terça-feira, 9 de outubro de 2007

Realidade De Um Rio

Revolução (na Ciência) Social

O movimento estudantil passa hoje por um momento de crise evidente e se faz presente inevitavelmente uma profunda reflexão e reavaliação de si mesmo e de seus rumos nesta conjuntura. O que vemos e vivemos em nosso cotidiano universitário imponentemente nos chama ao questionamento.

Aprendemos por repetição neste mundo de pós-modernismos “inevitáveis” e “intransponíveis”, que vivemos num mundo sob um paradigma aparadigmático de não verdades falsas, de não saberes sábios, da negação da negação. Nos adestramos a reconhecer o passado como um museu de animais empalhados e mortos que faz do hoje um mundo onde a realidade é uma alface hidropônica e transgênica que não precisa de terra pra crescer. Nos criamos numa realidade órfã de nós mesmos. Onde somos cada vez mais agentes passivos de uma ordem que já saiu de moda ser questionada. Onde cada vez menos ou nem nos reconhecemos como agentes da realidade, da transformação, pois se tornou antigo e mofado pensar em mudar o mundo, em nos livrar do que nos atrapalha, do que nos causa penúria sem causa.

Parece que a abstração nos engoliu. Parece que a verdade travestida de secularismo do mercado, a verdade absoluta que deslegitima tudo que a nega, se fez maior que as nossas possibilidades de nos libertarmos. Mas igualmente à própria verdade do mercado, isso só parece. Mas como parecença não é essência, a possibilidade está à mão de quem a busca. Como os monstros da caverna de Platão, o mercado, por mais que pareça, não é maior que nós, não maior que nós enquanto nos pensarmos coletivamente, enquanto nos pensarmos como de fato somos, pois somos zoompolitikom, somos animais sociais, seres coletivos e assim que agimos mesmo neste mundo do mercado. Por mais que não pereça, que pareça o oposto, o que de fato somos e como de fato agimos é dentro para e com a coletividade, com a sociedade.

Por isso a realidade, e como ela se mostra pra nós hoje, faz evidente a importância do nosso papel de agentes pensantes e críticos, por mais que seja difícil e por mais que pareçamos nadar contra a maré. Por mais que o mercado nos rechace e nos coloque uns contra os outros, é premente neste momento, é fundamental nesta conjuntura que exerçamos agora nosso vital papel de militantes (por mais que esta palavra seja antiga, seu significado é sempre eterno) militantes do mundo, do nosso espaço e da nossa realidade. Mas isso só será possível coletivamente, só será possível enquanto ação política na prática, ação coletivizante, ação coletiva.

O que vivemos hoje na instância principal de mobilização coletiva dos futuros cientistas sociais pensadores críticos produtores de conhecimento da sociedade pra sociedade e pela sociedade da Universidade Federal Fluminense precisa de uma transformação, de uma revolução, de uma quebra de paradigmas dogmáticos de negação da negação niilista e aristocrática, para uma forma dinâmica e orgânica que atenda a coletividade e seja uma instância que nos sirva de arma contra as imposições e arbitrariedades do mercado transfigurado e materializado nas ações do governo e reitoria. Que nos torne mais vivos enquanto organismo social, mais mobilizados e mobilizantes, com menos medo das sombras nas paredes da caverna e mais corajosos em saber o real tamanho desse monstro abstrato.

E a nossa participação tem mostrado que é neste caminho que queremos continuar. No caminho da vital necessidade de transformar, de participar, de mobilizar cada vez mais nosso mundo acadêmico motivado principalmente por essa conjuntura de ataques violentos por parte do governo/reitoria ao ensino público e à nossa Universidade em especial. E nossa realidade hoje no Diretório Acadêmico é a de um estado em evidente trilha de mudanças e impassível de se voltar ao estado anterior ao da assembléia do dia 25 passado. Por isso estamos num momento de transformações profundas, que a mim são análogas às de um momento revolucionário. Cabe a nós enquanto coletividade dos estudantes de Ciências Sociais optarmos por apenas reformas estatutárias, que somente irão beneficiar os acomodados acomodantes do DA niilista e aristocrático que não nos representa, ou escolhermos aprofundar e radicalizar a ruptura com o status quo passando por cima do burocratismo estatutário e fazendo um Diretório Acadêmico mais representativo e atuante do jeito que queremos.

O modelo atual de auto-gestão não representa um mal em si, e teve sua importância histórica num dado momento. Mas hoje, passada a experiência, temos e devemos continuar o processo de aperfeiçoamento do sistema. Pois o sistema, qualquer que seja, não funciona enquanto modelo abstrato, modelo de dever ser, que culpa os indivíduos por seu mau funcionamento. Mas todo sistema deve ser subjugado à dinâmica da práxis, à dinâmica do mundo real. É nosso direito e dever legítimos transformar e retransformar, derrubar, levantar, revolucionar qualquer sistema de diretrizes e leis que organizem nossas vidas, e qualquer forma de negar ou tentativa de barrar esse movimento natural é a clara amostra de resistência do espírito reacionário, conservador e contra-revolucionário que se agarra às formas antigas que de alguma maneira lhe dão algum tipo de sustento. Por isso é mais do que legítimo e necessário a nossa intervenção na realidade, e principalmente a realidade do movimento estudantil no qual estamos imersos. E a partir da reflexão e ação, poderemos pôr em prática o ato mais revolucionário, o de sermos o que de fato nós somos: senhores e senhoras de nossa própria história.

2 comentários:

Li disse...

Sobre suas idéias, menino, não acho nada de genial, é bem simples, na verdade, talvez eu pense assim por concordar com elas... e poder pensar igual ou bem parecido...
Agora sobre seu modo de escrever, bom, posso dizer que é tão bom que deu vontade de ler teu blog inteiro, especialmente na parte que se refere à conjuntura generalizada, e generalizante, antes de entrar no caso específico da UFF.
Parabéns...

Rafael Barreto Pinto disse...

Venho acompanhando de ouvido a situação do DA da nossa querida CS...

Uma crise política se instaura nesse aparelho estudantil. Onde aqueles que não trepam não saem de cima e aqueles que trepam ficam chupando dedo! Tudo pelo estatuto...

Para gerar frutos é preciso estabelecer uma nova ordem!

Abraços