Iremos nós repetir os erros da esquerda?
“Nunca na história deste país” esta mesma frase foi tão repetida por um presidente. Até nos períodos onde houve saltos ainda maiores de desenvolvimento capitalista, as autoridades não se viram tão impulsionadas a usá-la com tal freqüência e, provavelmente, com tal certeza.
O Brasil, apesar de já ter passado por fases mais aceleradas de crescimento capitalista, que é comumente medido pela taxa de crescimento do PIB, chega hoje a um patamar único em sua história em termos de poder econômico do Estado e das empresas por ele abrigadas. Esse poder se materializa numa nova posição que este estado ocupa no cenário mundial. Uma posição que cada dia se mostra mais desatrelada aos interesses do imperialismo americano, ou do das potências do eixo tradicional dos países desenvolvidos. Como vemos ao constatar que o Brasil passou de dependente devedor a, até mesmo, credor do FMI, por exemplo.
Não que o estado brasileiro esteja rumando em direção à independência em relação aos interesses do Capital, pelo contrário, cada vez mais se torna parte integrante destes interesses. O Brasil passa então a fazer parte do imperialismo como mais uma potência capitalista.
Os sintomas deste novo paradigma estão se tornando cada dia mais claros com o desenrolar dos acontecimentos. Há uma série de fatores com os quais somos obrigados a dialogar. A criação do acrônimo BRIC pelo economista Jim O'Neill teve por base projeções feitas em 2001 que determinavam quais países teriam o maior potencial de crescimento para ultrapassarem até 2050 as potências do atual G6. E de fato, neste período foram estes mesmos países que apresentaram um crescimento mais sólido e contínuo. Só que ele não projetou que essa escalada de crescimento seria tão rápida como realmente foi. Hoje a projeção mais aceita é de que até 2020 o Brasil esteja entre as 5 maiores economias do mundo.
Embora dentro dos BRIC’s o Brasil, em termos econômicos, esteja ainda atrás dos outros, ele representa o 8º maior PIB do mundo e, por incrível que pareça, entre os BRIC’s, apresenta os melhores indicadores sociais, o que para as potências tradicionais o torna ainda mais apto a ocupar posto de país do primeiro mundo. E de fato, mesmo se tomarmos o critério social para determinarmos o grau de desenvolvimento de um país veríamos que a superpotência global, o país que concentra boa parte das riquezas produzidas no mundo, os EUA, concentram uma população de pobres e miseráveis enorme se compararmos com as dos países desenvolvidos europeus. Desenvolvimento capitalista é isso: miséria e opulência. E por mais que o senso comum ache diferente, o desenvolvimento humano não está em relação necessária com o desenvolvimento capitalista. Por mais desenvolvido que um país hoje se torne, a pobreza será sempre parte de sua realidade. Portanto, o critério social por si somente não é o que define o grau de desenvolvimento de um estado, mas sim sua capacidade de apoiar a classe que o gere, e no caso, a classe burguesa.
Mesmo que o capitalismo seja global, a burguesia e o proletariado sejam classes globais, os estados nacionais são as arenas onde a luta de classes é controlada e reprimida pela classe dominante. No cenário do capitalismo global cabe aos donos do Capital o fortalecimento de seus instrumentos de intervenção para melhor atender aos seus interesses no mercado mundial. Interesses que se refletem na expansão dos mercados para além das fronteiras nacionais. Por isso, o critério mais válido para a detecção do grau de imperialismo de um país é a relação exportação/importação de Capitais, ou seja, o tamanho do montante de Capitais a serem investidos que sai do país e o quanto entra de investimentos estrangeiro. Somente alguns países estão no rol dos que exportam mais Capitais que importam, justamente os países imperialistas e que o Brasil agora faz parte.
As fusões entre multinacionais brasileiras elevaram seus poderios no mercado global juntamente com a intervenção destas e das já existentes em outros mercados onde ainda há espaço para expansão e onde as empresas locais não tenham a capacidade de competir. E onde há tal capacidade, ou um potencial de competição com a empresa local, o Brasil tem tratado de intervir em favor das multinacionais brasileiras. Como no caso do empréstimo contraído pelo governo argentino junto ao BNDES para expansão do metrô de Buenos Aires sob a condição de a obra ser feita pela Odebrecht, uma empreiteira brasileira. E como este há diversos outros exemplos onde houve intervenção do estado brasileiro ou de seus órgãos em favor dos interesses da burguesia que domina este mesmo estado.
Cabe a nós, marxistas, revolucionários comprometidos com a libertação da humanidade sabermos enxergar a realidade e para isso temos a melhor ferramenta de todas: o materialismo-histórico-dialético, que se bem usado é capaz de nos posicionar no caminho possível para alcançarmos o objetivo final dos revolucionários. E para tanto devemos ter em mente que a luta contra o imperialismo, hoje ganha um novo significado, uma nova imagem que perpassa à do Tio Sam e das velhas palavras de ordem antiamericanas e de simplória subserviência brasileira. Lutar contra o imperialismo hoje no Brasil é lutar por dentro dele. É vê-lo de perto e não se deixar confundir quando se mostra o desenvolvimento em alguma área de nossa sociedade. O desenvolvimento veio e virá cada vez mais pujante. Conviveremos com uma riqueza maior, mas a pobreza, que é inerente ao sistema persistirá.
E com isso deveremos saber que bandeiras serão as nossas sem cairmos na contradição, como quando defendíamos o “fora FMI” e fomos pegos de surpresa quando a dívida externa deixou de ser problema, então nos calamos como se nunca antes tivéssemos defendido isso e de forma tão veemente. Essa foi uma das inúmeras provas de nossa debilidade no uso da dialética como método de análise da realidade. Por isso se faz necessário que deixemos nossas preconcepções e dogmáticas esquerdistas de lado e aprendamos a enxergar essa realidade nova e determinante que se apresenta.
sábado, 7 de novembro de 2009
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