terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Ventura

Deixo então minha rainha. Minha princesa e meu reino.
Sigo meu destino. Minha ventura pelo mundo.
Meu coração já não me pertence.
Mora em lugar que ainda não conheço.

Solitário em minha montaria bela e bravia.
Saio errante com a força que nunca me havia.
Com a potência que não me sabia existir.
Sou forte e sozinho pelo andar dos caminhos.

Mas sei que, ao sair das sombras de meu castelo,
Posso não encontrá-lo meu em meu retorno.
Passo o risco de perder minha rainha e princesa.
A consciência de tal imagem me é inevitável.

Mais inevitável é a premência de minha partida.
Parto e busco o que nunca vi. Pelo meu castelo.
Pela minha rainha e pela minha princesa.

Pelo meu reino que empunho a espada.
Pelo meu povo que me lanço no nada.
Por mim que um dia retornarei comigo.

sábado, 7 de novembro de 2009

Novo/Velho Imperialismo

Iremos nós repetir os erros da esquerda?

“Nunca na história deste país” esta mesma frase foi tão repetida por um presidente. Até nos períodos onde houve saltos ainda maiores de desenvolvimento capitalista, as autoridades não se viram tão impulsionadas a usá-la com tal freqüência e, provavelmente, com tal certeza.

O Brasil, apesar de já ter passado por fases mais aceleradas de crescimento capitalista, que é comumente medido pela taxa de crescimento do PIB, chega hoje a um patamar único em sua história em termos de poder econômico do Estado e das empresas por ele abrigadas. Esse poder se materializa numa nova posição que este estado ocupa no cenário mundial. Uma posição que cada dia se mostra mais desatrelada aos interesses do imperialismo americano, ou do das potências do eixo tradicional dos países desenvolvidos. Como vemos ao constatar que o Brasil passou de dependente devedor a, até mesmo, credor do FMI, por exemplo.

Não que o estado brasileiro esteja rumando em direção à independência em relação aos interesses do Capital, pelo contrário, cada vez mais se torna parte integrante destes interesses. O Brasil passa então a fazer parte do imperialismo como mais uma potência capitalista.

Os sintomas deste novo paradigma estão se tornando cada dia mais claros com o desenrolar dos acontecimentos. Há uma série de fatores com os quais somos obrigados a dialogar. A criação do acrônimo BRIC pelo economista Jim O'Neill teve por base projeções feitas em 2001 que determinavam quais países teriam o maior potencial de crescimento para ultrapassarem até 2050 as potências do atual G6. E de fato, neste período foram estes mesmos países que apresentaram um crescimento mais sólido e contínuo. Só que ele não projetou que essa escalada de crescimento seria tão rápida como realmente foi. Hoje a projeção mais aceita é de que até 2020 o Brasil esteja entre as 5 maiores economias do mundo.

Embora dentro dos BRIC’s o Brasil, em termos econômicos, esteja ainda atrás dos outros, ele representa o 8º maior PIB do mundo e, por incrível que pareça, entre os BRIC’s, apresenta os melhores indicadores sociais, o que para as potências tradicionais o torna ainda mais apto a ocupar posto de país do primeiro mundo. E de fato, mesmo se tomarmos o critério social para determinarmos o grau de desenvolvimento de um país veríamos que a superpotência global, o país que concentra boa parte das riquezas produzidas no mundo, os EUA, concentram uma população de pobres e miseráveis enorme se compararmos com as dos países desenvolvidos europeus. Desenvolvimento capitalista é isso: miséria e opulência. E por mais que o senso comum ache diferente, o desenvolvimento humano não está em relação necessária com o desenvolvimento capitalista. Por mais desenvolvido que um país hoje se torne, a pobreza será sempre parte de sua realidade. Portanto, o critério social por si somente não é o que define o grau de desenvolvimento de um estado, mas sim sua capacidade de apoiar a classe que o gere, e no caso, a classe burguesa.

Mesmo que o capitalismo seja global, a burguesia e o proletariado sejam classes globais, os estados nacionais são as arenas onde a luta de classes é controlada e reprimida pela classe dominante. No cenário do capitalismo global cabe aos donos do Capital o fortalecimento de seus instrumentos de intervenção para melhor atender aos seus interesses no mercado mundial. Interesses que se refletem na expansão dos mercados para além das fronteiras nacionais. Por isso, o critério mais válido para a detecção do grau de imperialismo de um país é a relação exportação/importação de Capitais, ou seja, o tamanho do montante de Capitais a serem investidos que sai do país e o quanto entra de investimentos estrangeiro. Somente alguns países estão no rol dos que exportam mais Capitais que importam, justamente os países imperialistas e que o Brasil agora faz parte.

As fusões entre multinacionais brasileiras elevaram seus poderios no mercado global juntamente com a intervenção destas e das já existentes em outros mercados onde ainda há espaço para expansão e onde as empresas locais não tenham a capacidade de competir. E onde há tal capacidade, ou um potencial de competição com a empresa local, o Brasil tem tratado de intervir em favor das multinacionais brasileiras. Como no caso do empréstimo contraído pelo governo argentino junto ao BNDES para expansão do metrô de Buenos Aires sob a condição de a obra ser feita pela Odebrecht, uma empreiteira brasileira. E como este há diversos outros exemplos onde houve intervenção do estado brasileiro ou de seus órgãos em favor dos interesses da burguesia que domina este mesmo estado.

Cabe a nós, marxistas, revolucionários comprometidos com a libertação da humanidade sabermos enxergar a realidade e para isso temos a melhor ferramenta de todas: o materialismo-histórico-dialético, que se bem usado é capaz de nos posicionar no caminho possível para alcançarmos o objetivo final dos revolucionários. E para tanto devemos ter em mente que a luta contra o imperialismo, hoje ganha um novo significado, uma nova imagem que perpassa à do Tio Sam e das velhas palavras de ordem antiamericanas e de simplória subserviência brasileira. Lutar contra o imperialismo hoje no Brasil é lutar por dentro dele. É vê-lo de perto e não se deixar confundir quando se mostra o desenvolvimento em alguma área de nossa sociedade. O desenvolvimento veio e virá cada vez mais pujante. Conviveremos com uma riqueza maior, mas a pobreza, que é inerente ao sistema persistirá.

E com isso deveremos saber que bandeiras serão as nossas sem cairmos na contradição, como quando defendíamos o “fora FMI” e fomos pegos de surpresa quando a dívida externa deixou de ser problema, então nos calamos como se nunca antes tivéssemos defendido isso e de forma tão veemente. Essa foi uma das inúmeras provas de nossa debilidade no uso da dialética como método de análise da realidade. Por isso se faz necessário que deixemos nossas preconcepções e dogmáticas esquerdistas de lado e aprendamos a enxergar essa realidade nova e determinante que se apresenta.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

É pequeno agora

A Importância Do Início

Dias passam sem que haja
Ao menos uma forma de
Não demonstrar a real
Igualdade entre os termos.

Teríamos mais coisas a dizer.
Estaríamos como antes.

Agora tudo falta.
Muito do que era já não é,
O que fora já se foi.

Mas ainda resta o que
Um dia fora forjado e
Impresso em ouro.
Talvez sob a couraça
Onde se esconde o peito.

Apesar das lágrimas vertidas
Impostas aos olhos pela dor.
Nada se esvai tão rápida e
Diretamente que se possa dizer
Abstrato da concretude vivida.



Não É Fácil

Sinto como se ouvisse a chuva cair.
Lenta e fria chuva que molha meu mundo.
E o céu gris que hoje me abraça,
Me deixa pálido e sem fome.

Quero o sorriso que iluminava
Os meus dias ensolarados.
Faltam-me as cores das pequenas coisas
Que cintilavam sem me perceber.

Tenho saudade de um mundo
Que me fora por fraqueza de minhas
Pernas. Escapara-me pela condição
De minha torpe existência.

Sou menos hoje.
Sou menos algo.

Me falta.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Nosso Horizonte

A Revolução e a Esquerda que Temos

Nós vivemos sob a hegemonia dos oportunistas. A esquerda revolucionária foi reduzida e desqualificada ao longo do tempo. Fragmentada em suas vanguardas e esfacelada em suas bases, perdeu e a cada dia perde mais fôlego nas lutas populares, que diferentemente da esquerda, somente crescem em demandas reais.

Hoje, no mundo pós-estalinismo, nos encontramos a recolher os restos de uma outra virtualidade. Uma realidade sem alternativas, prenunciada e tacitamente vitoriosa pelos reformadores mais proeminentes da penúltima grande crise do Capital.

Nesta nova e completamente incerta fase da luta dos trabalhadores, temos poucas, mas tenebrosas certezas sobre seus rumos e conseqüências, a curto e médio prazo. Bem como podemos traçar algumas possíveis causas para estar onde estamos.

Com o desmantelamento da União Soviética, se inaugura então um estado de aprofundamento total na descentralização do movimento revolucionário comunista. O que traz conseqüências drásticas, não somente para o movimento revolucionário em si e sua busca pelo fortalecimento unitário, mas tragicamente para suas bases ideológicas, leia-se: pensamento marxista.

Em termos quantitativos, o debate interno à esquerda e a produção marxista nos meios partidários e acadêmicos se encontram em constante e progressivo arrefecimento. Em termos qualitativos a realidade se mostra em níveis ainda mais tétricos. A produção marxista é pouco significante e produz efeitos ínfimos, quase nulos à dinâmica dos movimentos sociais. Mas o que ocorre de mais grave, a meu ver, é em relação aos debates em meios partidários, para a esquerda e para os movimentos sociais: não há um debate sério! O que temos não vai além de digressões e justificações a posicionamentos e embates táticos entre as centenas de siglas que se traduzem em centenas de correntes internas, correntes externas, organizações internacionais (de amigos de facebook), partidos, partidões e partidinhos que se reivindicam marxistas, se auto proclamam revolucionários, mas que não apontam, não se fundamentam, não realizam, nem têm como horizonte palpável uma estratégia de fato marxista e de fato revolucionária.

Parece-me que, tanto quanto os valores do homem contemporâneo, o sentido de ser um militante marxista perdeu-se em meio ao caos ideológico, mas bem organizado pelos ideólogos do capital. Como se não passássemos de um bando de baratas afugentadas, atordoadas e desesperadas pelo bom e velho DDT, que neste renovado e asséptico mundo parece fazer mais efeito. Nesse mundo da vitória da mediocridade, da glorificação da estupidez, da ditadura do pensamento único e aprisionado, nos curvamos às meras disputas por migalhas partidárias, às contagens miseráveis de garrafas, nas rixas apequenadas por espaços ridículos de poder. Estamos também medíocres.

Nunca foi problema a ditadura do pensamento único. Nunca nos ameaçou a glorificação da estupidez. A ideologia dominante sempre foi a ideologia da classe dominante! Mas o que ocorre hoje? Por que então sucumbimos enquanto vanguarda do movimento revolucionário?

Sem temer as simplificações: porque vivemos sob a hegemonia dos oportunistas! Porque o processo que nos torna medíocres é o mesmo que mantém a mediocridade. Quem tem olhos pra ver reconhece o alto grau de desleixo e negligência dessas centenas de organizações reivindicantes da tradição marxista, sejam morenistas, sejam trotskistas, sejam estalinistas, leninistas ou o que forem, em práticas primárias de recrutamento, formação política e relacionamento com os movimentos sociais e com as massas. Dessa forma há um nivelamento por baixo nas discussões, esvaziamento teórico do marxismo como fundamento filosófico e instrumental nas análises necessárias para a vanguarda e uma direção partidária interessada em ganhos imediatos e mesquinhos para seus interesses egoísticos, de força ou individuais. Mas principalmente, há assim uma militância construída e forjada nos pequenos manuais e panfletos, que se torna desprovida de preparo teórico e intelectual e, por conseguinte, é incapaz de intervir e pensar dialeticamente, se tornando quase acrítica aos seus dirigentes imediatos.

Como cegos guiando cegos, nos encontramos numa das maiores crises na qual o capital já imergiu. Para um espectador desavisado é como se a luta de classes já houvesse deixado de existir. Pois, apesar da emergência de movimentos populares de grande vulto no mundo, mas principalmente na América Latina com a Venezuela e Bolívia nos últimos anos, a idéia de revolução e ruptura com o capitalismo e mais especificamente de uma revolução marxista, desde suas primeiras linhas traçadas nunca se encontrou tão esquecida, ignorada, e por muitas das vezes no seio dos próprios reivindicantes.

Especificamente no Brasil, temos um cenário de cuja única piora seria o total aniquilamento e desaparecimento de qualquer vestígio de organização popular ou pensamento crítico na sociedade. Pois o pouco que restou da esquerda “de luta” se encontra descolada e enfraquecida diante dos movimentos sociais reais e apartada dos grandes sindicatos e da massa de trabalhadores, que são então, juntamente com a burguesia, a grande base de sustentação do governo traidor do Partido dos Trabalhadores. E é durante este mesmo governo que o país alcança o status de potência imperialista, derrubando e silenciando algumas das velhas e mofadas análises de conjuntura marxistas onde as bandeiras de “fora FMI!” e “Não à ALCA!” não mais e talvez nunca tivessem feito sentido. Conjuntura esta que, aliada a inabilidade, apatia, descompromisso, falta de preparo e oportunismo dos marxistas “verdadeiros”, nos preenche de desesperança a médio e de total desespero em curto prazo.

Porém, como humilde, mas dedicado marxista, sei que o motor da História pode até parecer por vezes claudicante e podemos até vislumbrar a chama revolucionária cada dia mais fria e cada vez mais longínqua, entretanto, enquanto houver a exploração e opressão de um homem sobre outro, enquanto o mundo for dividido em classes essencialmente divergentes em interesses, enquanto a democracia não for imperativa em todos os espaços de vida e produção, enquanto o início e o fim das ações humanas não for a própria humanidade, sei que ainda não se apagará.

Sei que somos poucos, somos pequenos, mas sei que conseguimos provar na prática que direcionar nossa ação dialeticamente e sempre ao lado da classe trabalhadora ainda é a melhor forma de se alcançar conquistas e fortalecer o movimento. Conseguimos provar também que é possível se obter bons resultados eleitorais sem se ter a disputa parlamentar com foco estratégico, mas utilizando este momento como espaço pedagógico e de diálogo com as massas, reconhecendo as demandas reais da luta de classes como centrais e tendo sempre em vista o horizonte revolucionário como única forma possível de libertação, manutenção e evolução da vida humana neste mundo. De tal forma, se torna impossível o esgotamento da crença numa realidade melhor. Como marxista, reconheço na História que momentos de ascensão, ao contrário do que nos parece hoje, também existem e que a revolução é sempre impossível até que se torne inevitável.

Bruno Dutra Leite.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Por quê?

Somos Comunistas

Somos comunistas pois não há nada melhor a ser. Pois se houvesse, de certo seríamos.
Não somos comunistas por fetiche, pela bandeira vermelha, pela foiçe e martelo, ou pela Internacional. Somos comunistas porque sabemos que é o melhor caminho para a manutenção e evolução da vida humana.

Não somos comunistas pelo ódio ou por qualquer outro sentimento, que nos são naturais. Mas pela razão de sermos. Pela consciência.

Somos comunistas e reivindicamos a tradição secular do marxismo, pois não só cremos, mas racionalmente aprendemos com o estudo científico e pelo acúmulo de toda produção do conhecimento humano, que a filosofia dialética materialista histórica é, ainda, a melhor ferramenta racional para a compreensão da realidade concreta. Reivindicamos a História como única base sobre a qual o Homem se desenvolve, e reinvindicamos a sociedade como o único meio possível de sua existência, ser coletivo que é em essência. Acreditamos que essa mesma essência humana não pode ser facilmente definida, meramente com chavões e idéias retiradas do senso comum. Cremos que a essência humana, sobretudo, se costrói e se tranforma na prática, na realidade concreta das ações e intervenções no mundo.

Reinvindicamos o Homem como gênero universal em suas igualdades e diferenças. Acreditamos que toda ação humana se dá coletivamente. E adversamente à idéia dominante, cremos que as categorias indivíduo e coletivo são inseparáveis e se encontram em relação imbricada e necessária, pois, de igual forma que não há coletividade sem indivíduos, se torna também impossível um ser humano apartado dos outros.

Para além do conhecimento, ser comunista é sobretudo crer na tranformação. Crer que a realidade existe pra além daquilo que está diante dos olhos acostumados. Crer que há um conhecimento acortinado pelas ideologias dominantes e que este mesmo conhecimento, uma vez tomado, é chave para as ações tranformadoras.

Ser comunista é tentar ao máximo ser consciente. É viver pela maximização do uso da razão em suas ações. Ter em mente que todas as suas ações produzem consequências no mundo, reprodutoras ou produtoras de velhas ou novas práticas.
Temos o Homem como o verdadeiro centro da vida, objeto e objetivo, início e fim de toda ação e tranformação prática. Ao invés das idealizações alienates de deus ou do mercado.

Somos comunistas porque acreditamos no Homem e na sua capacidade de organização. Acreditamos na democracia como única forma legítima de organização coletiva. E sabemos que um mundo dividido em duas classes, com espaços demarcados e cercados pela figura jurídica da propriedade privada torna a democracia inviável em sua natureza pela exploração e expropriação de uma classe sobre a outra. Por isso somos contra e divisão da sociedade em classes, pois cremos que a a classe dos expropriados, dos explorados, a classe dos produtores, daqueles que com seu esforço e trabalho constróem a matéria do mundo, seja a única classe com legitimidade para existir, e para determinar seu próprio rumo histórico.

domingo, 29 de março de 2009

Conjuntura 2009


Por que hoje somos tão fracos?

Creio que vivemos um momento bastante peculiar da história. Mas que momento não o é?
Vivemos há poucos meses uma euforia de sentimentos capitalistas sem precedentes. Um momento em que o sistema aparentemente se mostrava sólido e nunca fizera tão bem ao mundo e até mesmo à humanidade. Mesmo onde a impossibilidade de um estado de pleno emprego, bem-estar a todos e do asseguramento de serviços públicos de qualidade não incomodava mais e nem mais entraria na pauta dos defensores e ideólogos do sistema, pois sua popularidade se mantinha intocada. Embora estivéssemos em um curto período a viver uma sensação apocalíptica em relação ao futuro do ecossistema e das demais conseqüências da produção material irracional, nos encontrávamos otimistas, pois o pior dos problemas se resolveria no campo das campanhas globais de caráter conservacionista e por leis e fiscalizações ambientais mais rígidas, assim desvinculando tais conseqüências da natureza irracional do modo de produção.

E então a Esquerda, cada dia mais enfraquecida e com o discurso menos difuso e mais disperso e abafado, neste cenário de vinte anos pós queda do muro e de “ondas” globais de prosperidade capitalista, em sua parte mais significante, se refugiou na repetição do discurso puramente ambientalista e sem a habilidade de integrá-lo à realidade da luta de classes. Pois ainda, a parte mais “realista” da Esquerda passou seu foco à disputa do apoio ideológico irrestrito ou da oposição feroz às novas experiências anti-imperialistas sul-americanas das empobrecidas Venezuela e Bolívia, enquanto outra parte da Esquerda passou a tomar como estratégico o debate e as denúncias sobre questões de violação de direitos humanos em países periféricos. Mais ainda aqueles que, mesmo oriundos da tradição marxista passaram a uma posição mais cômoda em longas alianças com setores burgueses, ora por conta de uma eleição ganha, ora por se cansarem do quase gueto onde a grande parte dos setores da Esquerda fazem morada. Esses hoje fazem parte de uma classe de organização que carrega todo simbolismo e reivindica a tradição de parte dos socialistas e comunistas de antigamente, mas integram a vala comum dos partidos do aparelho burguês a negociar benefícios individuais em relações promíscuas com o capital.

O que todas essas organizações, setores, partidos e demais componentes da Esquerda mundial têm em comum? O fato de terem progressivamente se afastado da questão principal e geradora de sua própria energia: a luta de classes. Ao se deslocarem e se distanciarem de sua própria natureza e “força motriz” da História, a Esquerda se tornou fraca, frágil e fragmentada por suas criações imaginárias e representações falsas de mundo e de classe. O que acarretou em fragmentação vinda da confusão de idéias em pontos de atrito criados pela Esquerda que se achou num mundo de falaciosos “pós tudo” e cobertas de medos de um possível “fim da História”.

Não saber ler a História. Foi esse o pecado mais grave. Foi ter esquecido os conselhos mais primevos de Marx e Engels no Manifesto. Foi ter realmente acreditado, após a queda do muro, que a reconstrução do socialismo como realidade era um sonho distante e quase impossível e que deveríamos esperar o momento revolucionário para assim então falarmos de revolução novamente, pois por enquanto, reafirmar o discurso do respeito à Constituição e aos “direitos humanos” e de apoio a políticas ambientais já era mais do que suficiente num mundo onde as maravilhas do telefone celular para todos agradava às classes trabalhadoras em estado de ascensão consumista.

Mal sabíamos e fomos pegos de surpresa pelo fato de que História não acabou. E de que Marx e Engels ainda estavam certos. E de que na verdade, esse momento de maravilha e prosperidade ocultava em suas entranhas a face verdadeira do sistema, a crise. E de que, através de artimanhas perspicazes se manteve por um bom período o capitalismo em expansão consumista, por meio de super crédito e super propaganda. Super consumo que por um período escondeu o estado patológico de superprodução.

O que hoje, neste mês de março do ano do calendário gregoriano de 2009, temos a vislumbrar é uma conjuntura em que a tradição da Esquerda é usada como tema para propaganda de automóveis e vira filme de Hollywood sem a menor fagulha de temor por parte do capital. Pois apesar de este estar num momento de profunda vulnerabilidade, a distância em que se encontra ideologicamente a frente da Esquerda é, sem mau uso do termo, humilhante.

Por que chegamos então a este estado de coisas?
Quando combinamos uma leitura equivocada da História, falsas táticas, fragmentação, que gera enfraquecimento, dispersão, sectarismo e mais enfraquecimento, aliados principalmente a uma visão não comprometida com o movimento propriamente revolucionário, temos uma classe despreparada e desarmada (em ambos os sentidos) para enfrentar uma crise clássica do capitalismo. Temos dirigentes autocentrados em suas imagens eleitorais e partidos desvinculados de sua base necessária. Temos sindicatos sem força ou controlados por pelegos aparelhadores e subservientes aos patrões. Mas sobretudo temos uma classe de trabalhadores ideologicamente manipulável e inconsciente de si, que portanto é incapaz de se proteger das drásticas conseqüências de uma crise sistêmica onde os de baixo são esmagadoramente mais fracos que os de cima.

Acreditar no que não se vê com os olhos cobertos e impregnados de ideologia, mas que é material, pois se pode mostrar pela razão. É a receita mais antiga de um método de pensamento revolucionário desenvolvido pela filosofia marxista e que, a meu ver, ainda é a máquina mais moderna de se enxergar a realidade. Essa é a única forma que conheço de se conquistar e tomar as rédeas da História e de nossos destinos. E mais do que nunca, é ela que pode nos conduzir de novo ao caminho da verdadeira e revolucionária liberdade.

Bruno Dutra Leite.

sábado, 14 de março de 2009

Nossa Hora

A Resposta Marxista À Grande Crise de 2008

E a crise?
Perguntou o homem ocupado.
E todos falaram em línguas compreensíveis.

Mas sem resposta,
o homem seguiu ocupado.
E ocupado não fez nada.
E seguiu se ocupando do nada.

Hoje ele pergunta.
Ontem estava ocupado.
E amanhã estará livre.

Livre dos meios de produção.
Meios que os fazem homens ocupados
com sua liberdade.
Tão ocupados com sua liberdade
que não fazem
mais nada.

E seguem ocupados e livres.

Antirromantismo

Falso Soneto da Realidade

E o amor que fogo foi e tanto ardeu,
já se foi fogo em brasas atrasadas
que outrora verdejante em vermelho
e hoje de cinza em baixas escalas.

A menina que tanto sonhara
e perdera a vida em longas noites
de românticos e nobres transes,
infeliz ao eterno fim que se fora.

Hoje se embebeda de real penar
que se pensa liberta da História
e chora sem orvalho em seu olhar

Quem sabe distante da glória
do passado que teima em distar
da vida das meninas de agora.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

C'est la vie

Ride a Bicycle in Niterói, Turn Your Life Simple. (english version)

World is not made of cycleways.
The world is mean.
World is not made of well organized pavemented streets.
World is mud and sand,.
World was not made on a urban project desk.
World is chaos and violence.

The world is not Amsterdam,
The world is not a main street in Brussels,
the world is not made with the same concrete
that New York was.
World is Mexico City.
The world smells like Rio de Janeiro.
The world seems like Capetown.
The world is a step on the ground.
And it's not Carrara.
It's made on fire and blood.

We can't see it through big glass windows.
We can't walk without fear.
Our breath is full of dirty dust.
And we can't stay clean for a long.
Day hurts our skin,
And the cold of night makes our
loneness darker.

World is angry and madness,
and the peaceful people is a moment
of illusion.

Sweet and kind illusion.

Bruno Dutra Leite
Ande de Bicicleta em Niterói. Simplifique sua Vida.

O mundo não é feito de ciclovias.
O mundo é perverso.
O mundo não é feito de ruas pavimentadas e bem
organizadas.
O mundo é lama e areia.
Ele não foi feito na mesa de um planejador urbano.
Ele é caos e violência.

O mundo não é Amsterdã,
nem é a rua principal de Bruxelas.
O mundo não foi feito do mesmo concreto
que Nova Iorque.
O mundo é a Cidade do México.
Tem o cheiro do Rio de Janeiro e
a cara da Cidade do Cabo.

O mundo são pés no chão.
Que não é feito de mármore,
mas foi forjado em fogo e sangue.

Não se vê o mundo por janelas de vidro.
Nem se pode andar sem medo por ele.
Nossos pulmões são invadidos por fumaça
e poeira.
O dia vive a nos machucar a pele,
e a noite escurece em solidão.

O mundo é pura raiva e loucura.
E a paz entre os homens é um instante
de ilusão.

Doce e suave ilusão.

Bruno Dutra Leite.